domingo, janeiro 22, 2012

Minha cabeça doi. Eu estou aqui, sentada no mesmo lugar desde as seis da manhã. Eu que não perco sono por nada. Exceto por ti. Eu poderia dormir anos e anos. Exceto por ti. Eu poderia largar todos os meus sonhos. Exceto por ti. Eu poderia desistir de tudo. Exceto por ti. Calar. Falar. Rir. Chorar. Amar. Por ti.

(Bruna Alencar)

      Perigo é uma coisa que descumpre. Perigo é ter dezessete, dezoito anos. E amar.

     Quando eu fabricava a chuva só pra nós dois, quando eu crescia no seu beijo, quando eu cantava no seu rosto em uma tarde quente e melodramática, não sabia que era tarde demais. E talvez eu não tivesse me arriscado tanto se soubesse. O sono insiste em ficar quando você pega minhas mãos entre as suas e solta cinco beijos delicados, leves, esvoaçantes. O resto do mundo fica calado sempre que você desenha flores com a ponta dos dedos na minha barriga, mas você se adianta em me dar um sorriso preguiçoso quando ainda o sol nasce, querendo me encontrar além da velocidade da luz. Querendo me encontrar antes de qualquer outra promessa ou falta. Me encontrar depois do futuro. Me encontrar depois das enchentes e das secas, dos gritos que atravessam ruas e paredes, dos arco-íris nada nossos, das frases perdidas pelos esquecidos e pelos acasos. Me encontrar depois dos fatos. Era a nossa hora de partir para a vida e você sabia. Era a nossa hora de se desencontrar, correr, buscar as estradas onde só é possível ver horizontes e horizontes, preencher os bolsos de moedas, partir para ser brisa ou alar os caminhos, alar você e você sabia. Você podia ser muito mais livre e desajustado e extravagante. Eu podia. Mas a gente gasta o tempo precioso de uma vida pós-encontro correndo um perigo que a gente sabe. É nessa parte que você beija meu pescoço até marcar, até mostrar nitidamente que eu posso, que eu aguento, que nenhum outro par será como o nosso par e que somos consistentes. Eu quero que você leve minha marca através dos túneis e das nuvens. A letra do seu nome fica no meu nome. Você é o cobre, eu sou o cobre, tarde demais para filtrar. Não às datas e às esquinas e aos outros recursos para sermos distraídos, porque eu sou sem recursos e esse sim é o nosso grande amor. Eu sou sua como nenhuma outra poesia é.

Mariane Cardoso

sábado, janeiro 14, 2012

E na vida alguns medos me atormentam, mas quando paro para pensar, ou até mesmo sem parar, sei sem titubear qual é o maior deles. Te ver partir. Sem mim.

(Bruna Alencar Carvalho)

terça-feira, janeiro 03, 2012

(...) Talvez este seja um castigo justo para aqueles que não tiveram coração: só compreender isso quando não se pode mais voltar atrás.(...) Sabe, Mariam jo, ouso me permitir ter esperanças, esperança de que, depois de ler essa carta, você seja mais benevolente comigo do que jamais fui com você. Que volte a bater à minha porta e me dê a chance de abri-la, desta vez, para recebê-la e abraçá-la, como eu deveria ter feito tantos anos atrás. Bem sei que é uma esperança tão fraca quanto o meu coração. Mas vou ficar esperando. Vou ficar atento a qualquer batina na porta. Vou continuar tendo esperanças. 

(A cidade do sol / A Thousand Splendid Suns - Khaled Hosseini)
Pelo espelho, sob o véu verde com que o mulá cobriu a cabeça de ambos, os seus olhos se encontraram. Não houve lágrimas, nem sorrisos, nem juras de amor eterno sussurradas bem baixinho. Em silêncio, Laila fitou aqueles dois rostos refletidos no espelho, aqueles rugas que agora marcavam a sua pele que antes era tão lisa, tão jovem. Tariq abriu a boca para falar, mas, nesse exato momento, alguém retirou o véu e ela não entendeu o que ele estava começando a dizer.
Naquela noite, deitaram-se na cama como marido e mulher, com as crianças ressonando em seus colchões. Laila pensou na facilidade com que preenchiam o espaço entre eles com palavras quando eram mais moços; lembrou de como falavam desordenadamente, sempre se atropelando um ao outro, cutucando-se mutuamente para enfatizar alguma coisa que dissessem, sempre prontos para rir à toa, sempre loucos para se divertir. Tinha acontecido tanta coisa desde então, tanta coisa que precisava ser dita... Mas, naquela primeira noite, a enormidade de tudo aquilo a deixava sem palavras. Bastava-lhe estar ali, ao lado dele. Bastava saber que ele estava ali, sentir o calor daquele corpo junto ao seu, estar deitada ao seu lado, sentir a cabeça dele roçando a sua, a mão direita dele segurando a sua esquerda.
Quando acordou com sede, no meio da noite, viu que ainda estavam de mãos dadas, que suas mãos se seguravam com força, daquele jeito aflito com que as crianças agarram a corda de um balão.

(A cidade do sol / A Thousand Splendid Suns - Khaled Hosseini)

sexta-feira, dezembro 30, 2011


Final de ano. Natal. Reveillon. Fim de um período de 365 dias (ou 366, o chamado ano bissexto), mas o que de fato encerra? o que começa? o que devemos repensar e em que não se deve nem pensar? Sinceramente, eu não sei responder, nem pra mim, logo, não posso dar uma receita. Em 2012 eu tirei várias lições, de várias situações nas quais nunca pensei me encontrar, e em outras, eventualmente, nem me encontrei.
Acho que 2011 não foi um ano de segredos, foi sim, um ano de descobertas, a duras penas, um ano de indecisão, onde recurar parecia covardia e se jogar parecia precipitação. Não foi um ano no qual eu consegui descobrir o que eu quero, mas, sem dúvida foi um ano no qual eu descobri o que eu não quero. Metade do já caminho percorrido.
Dei duro e ninguém tem como questionar, e nem eu tenho arrependimentos do trabalho que realizei, estudei, estudei, estudei e renunciei a coisas que antigamente eram prioridades. Antigamente. O tempo se encarrega de mudar as prioridades. Ninguém precisa das mesmas coisas pra sempre. Dormi pouco, li muito, fiz muito exercício físico, melhorei meu inglês, mantive meus cabelos hidratados, fui mais tolerante, mais simpática, fiz caridade e cumpri tantos outros itens da minha lista de metas para 2011. No entanto o que marcou 2011 pra mim, não foi nenhuma das coisas que eu tinha planejado. As melhores coisas eu não planejei, e nem tinha como.
Perdi muita gente, gente que eu não me imaginava sem, aprendi que na hora doi, nos primeiros dias é quase insuportável - sei que pode parecer clichê mas não existe nada melhor do que ocupar a cabeça - mas com o tempo você fica anestesiada, e no máximo sobre apenas um desconforto. Perdi uns e ganhei poucos (e recuperei um dos principais =D) mas como amizade quantitativa em vez de qualitativa é perda de tempo eu estou feliz.
Não adianta dizer que do dia 31 para o dia primeiro eu vou mudar tudo o que eu quero em mim, as verdadeiras mudanças são gradativas, são resultado do "eu" que você constroi todo dia, da sua vivência, de quantas pessoas moram dentro de você e de qual mais fala (só não oprima as outras, certo?), e como segundo Saint-Exupery "As pessoas são solitárias porque constroem muros ao invés de de pontes" quero poder me cercar de pontes, quero ampliar meus horizontes. E então, e 2012? ah, 2012: permita-se! permita-se encontrar o melhor "eu" dentro de você. O que te faz bem.

(Bruna Alencar Carvalho)

quinta-feira, dezembro 29, 2011

"Foi nessa semana que Laila se convenceu de uma verdade: de todas as dificuldades que uma pessoa tem de enfrentar , a mais sofrida é, sem dúvida, o simples ato de esperar."

(A cidade do sol / A Thousand Splendid Suns - Khaled Hosseini)