terça-feira, janeiro 03, 2012

Pelo espelho, sob o véu verde com que o mulá cobriu a cabeça de ambos, os seus olhos se encontraram. Não houve lágrimas, nem sorrisos, nem juras de amor eterno sussurradas bem baixinho. Em silêncio, Laila fitou aqueles dois rostos refletidos no espelho, aqueles rugas que agora marcavam a sua pele que antes era tão lisa, tão jovem. Tariq abriu a boca para falar, mas, nesse exato momento, alguém retirou o véu e ela não entendeu o que ele estava começando a dizer.
Naquela noite, deitaram-se na cama como marido e mulher, com as crianças ressonando em seus colchões. Laila pensou na facilidade com que preenchiam o espaço entre eles com palavras quando eram mais moços; lembrou de como falavam desordenadamente, sempre se atropelando um ao outro, cutucando-se mutuamente para enfatizar alguma coisa que dissessem, sempre prontos para rir à toa, sempre loucos para se divertir. Tinha acontecido tanta coisa desde então, tanta coisa que precisava ser dita... Mas, naquela primeira noite, a enormidade de tudo aquilo a deixava sem palavras. Bastava-lhe estar ali, ao lado dele. Bastava saber que ele estava ali, sentir o calor daquele corpo junto ao seu, estar deitada ao seu lado, sentir a cabeça dele roçando a sua, a mão direita dele segurando a sua esquerda.
Quando acordou com sede, no meio da noite, viu que ainda estavam de mãos dadas, que suas mãos se seguravam com força, daquele jeito aflito com que as crianças agarram a corda de um balão.

(A cidade do sol / A Thousand Splendid Suns - Khaled Hosseini)

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