segunda-feira, dezembro 26, 2011

- Já acordei várias vezes - ela disse. - Simplesmente não consigo parar de pensar.
- Em como Fenoglio vai encontrá-la agora?
Ela confirmou com a cabeça.
Como ela continuava acreditando nas palavras! Farid acreditava em outras coisas. Em sua faca, em astúcia, coragem. E em amizade.
Meggie encostou a cabeça em seu ombro, e os dois ficaram em silêncio, como as estrelas sobre eles. Em algum momento, soprou um vento, frio e com rajadas, salgado como a água do mar. Meggie sentou-se, tiritando de frio, e pôs os braços em volta dos joelhos.
- Este mundo - ela disse. - Você gosta dele de verdade? (...)
- Ele é cruel, você não acha? - prossegiu Meggie. - (...)
Farid passou seus dedos queimados nos cabelos claros de Meggie. Mesmo no escuro brilhavam.
- Todos eles são cruéis - ele disse. - O mundo de onde eu venho, o seu mundo e este aqui. No seu mundo talvez não se veja a crueldade logo de cara, ela está mais escondida, mas está la mesmo assim.
Pôs o braço em volta dela, sentiu seu medo, as preocupações, a raiva... era quase como se ouvisse o coração dela sussurrar, claramente, como a voz do fogo.
- Sabe o que é estranho? - ela perguntou - Mesmo se eu pudesse, agora mesmo, eu não voltaria. Isso é louco, não é? É quase como se eu sempre tivesse desejado vir pra cá, para um lugar como este. Por quê? É assustador!
- Assustador e bonito - disse Farid e beijou-a. O gosto do beijo era bom. Muito melhor do que todos os gostos que ele já havia sentido.


(Sangue de Tinta - Cornelia Funke)

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