quarta-feira, novembro 02, 2011

"
A hipocrisia pesou àquele homem durante trinta anos. Era o amor, e consorciou-se com a probidade. Odiava a virtude com um ódio de mal casado. Teve sempre uma premeditação malvada; desde que se fizera homem, trazia aquela armadura rígida, a aparência. Era monstro internamente. vivia em uma pele de homem de bem, com um coração de bandido. Era pirata ameno. Era prisioneiro da honestidade, estava fechado naquele caixão de múmia, a inocência; tinha nas costas asas de anjo, esmagadoras para um velhaco. Pesava-lhe demais a estima pública. Passar por homem honrado é duro! Manter constante equilíbrio, pensar mal e falar bem, que labutação! Clubin era fantasma da retidão, sendo o espectro do crime. Este contra-senso foi destino dele. Era-lhe preciso mostrar ares aprensentáveis, escumar por baixo do nível, sorrir em vez de ranger. A virtude, para ele, era coisa que esmagava. Passou a vida a ter vontade de morder aquela mão que lhe tapava a boca. E querendo mordê-la foi obrigado a beijá-la. (...) Ser desmascarado é uma derrota, mas desmascarar-se é uma vitória. É a ebriedade, é a imprudência insolente e satisfeita, é uma nudez transportada que insulta tudo diante de si. Suprema felicidade (...)" (Os Trabalhadores do Mar - Victor Hugo)

Nenhum comentário:

Postar um comentário